terça-feira, 20 de agosto de 2013

Livros mudaram a vida e a história de muitas pessoas e comunidades no Brasil


Da Redação

A dona de casa Vanilda de Jesus, 44 anos, de Belo Horizonte, mantém em sua casa uma biblioteca com 20 mil obras, a maioria doada. Ela começou ajudando crianças no dever da escola e hoje ensina até as primeiras letras para quem quer ler.

O gari Wagner Aguinaldo Cassimiro, 39 anos, também da capital mineira, dedicou horas dos seus dias para montar uma biblioteca onde trabalha. Conquistou o amigo José Caetano dos Santos, 49 anos, e juntos montaram o Cantinho da Leitura, onde todos os funcionários podem emprestar livros e revistas.

O hoje estudante de Letras e borracheiro Marco Túlio Damascena, 29 anos, teve a ideia de montar uma biblioteca na sua borracharia para distrair os clientes enquanto trabalhava. Acabou vencendo o Prêmio Vivaleitura pela iniciativa. Na “borrachalioteca” os clientes e moradores têm acesso a centenas de livros, jornais e revistas. E toda quarta-feira há sessão de contação de histórias. A escolha pelo curso superior foi consequência da biblioteca.

Há histórias de pescadores que montaram barracas de leitura nos mercados de peixe, aposentados que, de bicicleta, percorrem estradas rurais e vielas de morros com a mochila cheia de livros para emprestar e até quem use o lombo de animais para, em cestos, levar a leitura a comunidades carentes.

Fonte: http://lerparacrescer.folhadaregiao.com.br

Eles venceram: a educação que realiza sonhos

No dia em que se celebra o nascimento de Cristo, três histórias mostram como é possível dar um novo sentido à vida, não importa a idade
24/12/2011 - 16h28 - Atualizado em 24/12/2011 - 16h28
A Gazeta

Eles escolheram, já adultos, tirar da gaveta os planos guardados no passado e realizar seus sonhos mais valiosos. Depois de anos longe das salas de aula, Sebastião, Jaeder e Geraldo agora podem comemorar a vitória de terem transformado suas vidas. Muito mais do que formação acadêmica, conquistaram um novo emprego, uma nova forma de ver o mundo e uma chance de recomeçar. Tudo isso graças à educação.

O "despertar" na vida do marítimo Geraldo Benedito Pereira Ramos, 61 anos, por exemplo, aconteceu quando, um dia, passando em frente ao Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), em Vitória, ele viu uma fila enorme de pessoas. "Parei e perguntei o que era aquela fila. Eram as inscrições para a Educação de Jovens e Adultos. Não pensei duas vezes e me inscrevi. Senti que era a hora de voltar a estudar", lembra.
foto: Gabriel Lordêllo
Geraldo Ramos, 61, se tornou professor de filosofia depois de mais de 40 anos sem estudar - Foto: Gabriel Lordêllo
"Para a vida poder existir, a gente precisa pensar, e eu descobri isso"

Geraldo Benedito Pereira Ramos, começou a dar aulas de filosofia aos 61 anos de idade
Já sem poder trabalhar, devido a problemas de saúde, ele viu nos estudos a possibilidade de ter uma vida nova. Nem mesmo os 41 anos que o separavam do último contato que teve com uma escola o fizeram desistir. Assim que conseguiu o diploma de ensino médio, entrou para o curso de Geomática, no próprio Ifes. Mas o que Geraldo queria mesmo era estudar Filosofia. "Sempre gostei de ler os filósofos clássicos e percebi que o curso tinha tudo a ver comigo. Em 2006, prestei o vestibular, passei e fiz o curso. Há um ano, me formei", conta.

Daí para a realização de um sonho ainda maior, foi um passo. Sem que ele soubesse, uma cunhada inscreveu-o na seleção para professor em Designação Temporária da rede estadual, no ano passado, e ele foi aprovado. Neste ano, pela primeira vez, Geraldo, aos 61 anos, entrou em uma sala de aula para ensinar a outras pessoas.

"A Filosofia e a minha nova profissão mudaram a minha relação com o mundo e me fizeram crescer. Para a vida poder existir, a gente precisa pensar, e eu descobri isso", diz.

Dedicação
Na vida de Jaeder Brumatti, 42 anos, a palavra dedicação também sempre esteve muito presente. E foi graças a ela que Jaeder sustentou sua família, por quase 20 anos, com a profissão de chaveiro. Aos 37 anos, decidiu que era hora de buscar um novo caminho. Prestou vestibular para Ciências Contábeis e, durante os quatro anos do curso, foi um dos melhores alunos da turma.
foto: Gabriel Lordêllo
Jaeder Brumatti, 42, foi chaveiro durante 20 anos, voltou a estudar, formou-se contabilista e agora foi aprovado em concurso do Idaf - Foto: Gabriel Lordêllo
Jaeder deixou a profissão de chaveiro, fez Ciências Contábeis e passou em concurso
Hoje, comemora a estabilidade do emprego público que conquistou: desde setembro, é contador do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado (Idaf). Mas alcançar o objetivo de poder dar uma vida confortável à família e de abandonar a antiga profissão não foi fácil. Ao longo de todo o curso, Jaeder continuou com a banca de chaveiro que tinha na Praia da Costa, em Vila Velha, e, por isso, não chegou a estagiar.

"Eu precisava trabalhar. Quando terminei o curso, coloquei as coisas da banca no carro e trabalhava, ao mesmo tempo, para algumas pequenas empresas, já na minha área. No tempo que sobrava, eu pegava as apostilas para estudar para concurso, dentro do carro mesmo", conta.

Tanta dedicação lhe rendeu a melhor nota da faculdade no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Aliás, tirar nota menor que 10 nas provas do curso, para ele, era mau sinal. "Um curso superior tem a possibilidade de lhe oferecer apenas uma pequena parte do conhecimento. Se tirar cinco, terei aprendido metade do pouco que poderia aprender", considera.

Se a educação transformou a sua vida? "Sem dúvida. Ela me deu a profissão que eu queria e a estabilidade de que eu precisava. Como chaveiro, não posso dizer que ganhava mal, mas o que buscava, de fato, era outra coisa."

Superação


E o que dizer do funileiro Sebastião José da Silva, 54 anos, cuja história é, sem dúvidas, o maior exemplo de superação? Nascido no Rio de Janeiro, Tuca, como prefere ser chamado, veio para o Estado com 19 anos. Tinha apenas a 6ª série completa e, por aqui, não teve oportunidade de continuar estudando.
foto: Bernardo Coutinho
Sebastião José da Silva, 54 anos, é funileiro e voltou a estudar aos 33 anos. Em 2008 prestou vestibular e agora cursa Educação Física no Salesiano - Foto: Bernardo Coutinho
"Meu objetivo é dar aulas de Educação Física depois de me aposentar. Também
quero fazer pós-graduação"

Sebastião José da Silva, 54 anos, voltou a estudar aos 33 anos e hoje cursa Educação Física
Logo que chegou, conseguiu um emprego na função que já exercia e, por mais de 15 anos, dedicou-se apenas a ela. Construiu, com muita dificuldade e com a ajuda da esposa, uma casa no bairro Forte São João, em Vitória. Lá, criou os dois filhos, sempre ensinando a eles a importância dos estudos que ele mesmo não havia concluído.

"Quando meu filho, uma vez, foi fazer um curso de elétrica, eu pegava as minhas passagens de ônibus para dar para ele ir para o curso. E eu ia andando, de Vitória até Cariacica, a pé para o trabalho. Era o que eu podia fazer por eles naquele momento", lembra.

Antes mesmo, Tuca já havia começado a correr atrás de realizar o seu próprio sonho. "Desde criança, dizia que queria ser cientista matemático. Em 1986, me matriculei no supletivo e voltei a estudar. Terminei o segundo grau, mas achava que não tinha aprendido matemática suficientemente. Fiz, de novo, o segundo grau", conta.

Como se não bastasse, incentivou o cunhado a voltar a estudar e prometeu acompanhá-lo no segundo grau, pela terceira vez. Finalmente, em 2008, decidiu prestar vestibular, mas não mais para matemática. "Achei que seria muito difícil levar o curso e optei por Educação Física, que era a minha segunda opção. E fiz a escolha certa, porque adoro o que faço", destaca.

A pequena academia que montou para si no terraço de casa é a prova de que o sonho está sendo construído. "Quero me tornar professor de Educação Física e dar aula para crianças. Já superei muitas dificuldades e até aprendi a mexer no computador. Sei que posso muito mais", orgulha-se o funileiro, que ainda divide o trabalho com os estudos, à noite.

Geraldo, Jaeder e Sebastião têm histórias de vida diferentes, mas compartilham uma mesma virtude: a sabedoria. Graças a ela, reencontraram o caminho da educação e provaram que nunca é tarde para escrever mais uma linha de suas histórias. Uma verdadeira transformação e lição de vida.